Ao longo o tempo assistiu-se a uma mudança de mentalidades, o que se traduziu numa alteração do papel da mulher e do filho. O alargamento do período de estudo e o ingresso no Ensino Superior tal como a entrada no mercado de trabalho, sobretudo após o 25 de Abril, foram factores preponderantes no adiamento da conjugalidade e fecundidade. Hoje casa-se menos e mais tarde e isso conduz a um adiamento da maternidade. Por exemplo, em 1996 a idade média da mulher ao nascimento do primeiro filho era de 25,8 e hoje é de 28,1 anos.
A procura de melhores condições de vida e de sucesso na carreira profissional mostram que, para a mulher moderna, ser mãe não é o seu objectivo de vida. Ana Prata, empresária bracarense representa esta realidade. O desejo de ascender profissionalmente fez com que adiasse o nascimento da sua única filha. “As razões profissionais e económicas, nomeadamente o orçamento familiar e os custos inerentes à educação conjugado com a falta de apoio do Governo, fizeram-me atrasar a vinda da Rita”, afirma a entrevistada. Já Carla Oliveira exclui a possibilidade de ter outro filho pois admite que, enquanto funcionária pública, não ganha o suficiente para educar dois filhos. O mesmo se verifica com Adelaide Machado que revela que nunca teria um terceiro filho se não tivesse uma condição económica estável. Também a crescente utilização dos métodos contraceptivos conduziu a um maior planeamento do núcleo familiar.
A precariedade do emprego aliada ao facto da maternidade, por vezes, não ser bem vista pelo patronato, são outras das causas que contribuem para a crise da natalidade portuguesa. Paulo Nossa, presidente do Departamento de Geografia e Planeamento da Universidade do Minho (UM), corrobora esta ideia, acrescentando que a administração de certas empresas não permite que as suas colaboradoras tenham um projecto de gravidez. Foi o que aconteceu a Isabel Dias, que foi despedida após ter estado ausente durante a licença de parto. A jovem mãe confidenciou que: “O certo é que a minha filha tinha cinco meses quando fiquei sem emprego.”
Ouça na íntegra o caso da família Dias
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Incentivos: um caminho a percorrer
Tal como referiu José Sócrates: “No âmbito do Programa de Alargamento da Rede de Equipamentos Sociais (PARES), estamos a financiar a construção de mais 136 creches, que permitirão acolher 6 mil crianças”, reforçando assim a rede pública de apoio à infância. O Primeiro-Ministro adiantou ainda que com esta política, Portugal atingirá em 2009 a taxa de cobertura fixada pela União Europeia para 2010. No entanto, para Vítor Rodrigues, docente de Demografia da UM, as únicas políticas que poderão resultar são aquelas que levam os casais não a ter mais filhos mas a tê-los mais cedo.
Apesar de se saber quais os trilhos a percorrer para aumentar a Taxa de Natalidade, e das várias tentativas feitas para equilibrar o saldo natural, Portugal ainda tem muito para caminhar. Por isso, o Governo não deve restringir-se em implementar políticas económicas mas deve centrar-se também em políticas sociais que permitam uma maior estabilidade ao casal.
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Consulte ainda:
+ ABC da Demografia (glossário)
+ Vídeo na íntegra da entrevista aos especialistas
+ Análise da população portuguesa em relação à Europa